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quarta-feira, 28 de março de 2012

Ave Maria do Peão

Ave Maria do Peão
Odilon Ramos

Ao reponte do sol que descamba
no dia se aprochega para o arremate
pelos campos e nos matos da querência
no revoar da bicharada voltando ao ninho
é hora de recolhimento
No rancho que há no interior de mim mesmo
eu, gaúcho de fé me arrincono e medito
Despindo o poncho da vaidade e do orgulho
tiro o chapéu, apago o pito
e me achego pra uma prosa
com o patrão maior
Na sua presença meu sangue quente de farrapo
se faz manso caudal
entrego-lhe minha alma
afoita de alcançar lonjuras e abrir cancha
em busca do destino
renuncio à minha xucra rebeldia
me faço doce de volta e macio de tranco
para dizer-lhe
Gracias patrão
por tudo que me deste por esta querência Senhor
que meus ancestrais regaram
com seu sangue e que aprendi a amar desde piá
Pelos meus parceiros nessa ronda da vida
sempre de prontidão para me amadrinharem na
campereada mais custosa ou para matearem comigo
na hora do sossego
Reparte com eles, patrão
esta fé que me deste e este orgulho pela minha querência
Ajuda patrão a manter acessa esta chama
concede sempre ao gaúcho a força no braço
e o tino pra saber o que é correto
Dá-nos consciência para preservar a nossa cultura
livre da invasão dos modismos
conserva a essência e a beleza da nossa tradição
E agora, com licença patrão
que vou aproveitar a olada
para um dedo de prosa com
Nossa Senhora.
Ave Maria primeira prenda do céu
contigo está o Senhor, na estância maior
tu és bendita entre todas as prendas
e bendito é o piá que trouxeste ao mundo, Jesus
Maria, mãe de Deus
E mãe de todos nós
roga pela querência e pelos gaudérios
que aqui moram nesta hora e no instante
da última cavalgada
Amém.

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