Desses fletes que eu já tive
desses que sentencia tudo
destacou-se um curnilhudo
um lindo mouro tapado
Era um cavalo entroncado
desses de encher a perna
que quando o índio se inferna
fica troteando parado
Eu balançava as chilenas
fazendo cantar o aço,
ele trocava de passo
três, quatro vezes seguidas
Era um respeito na lida
meu lindo mouro tapado,
nas patas deste adestrado
só não apostei a vida.
E quantas vezes por graça
após um dia de festa,
tapeava o chapéu na testa
e roseteava o morito
dando de boca em grito
pra que renegasse o basto
passava a cara no pasto
depois saia ao tranquito.
No lombo do pingo mouro
fiz mil e uma façanha
as vezes na meia canha
numa guerra me metia
nas patas da policia
vejam que aventura louca
cansei de bater na boca
e me mandar pras cria.
Pealava de toda trança
deixava o mouro cinchando
parece velo roncando
rédeas atadas ao laço
partiu de mim um pedaço
quando meu mouro morreu
meu coração recebeu
um violento cincrônasso.
Cambiada pelo destino
surgiu um dia na estrada
uma potranca rosada
fujona de algum vizinho
talvez lhe desse carinho
e não havendo outro jeito
meu mouro botou o peito
num sete cordas fonfinho.
Enforquilhado na cerca
morreu meu mouro tapado
fiquei tristonho e magoado
ao ver aquela desgraça
aquela potra de raça
batendo cascos ao lado,
me senti sendo velado
por uma china lindaça.
Por guapo se perde um taura
quando a má sorte acompanha
meu mouro nessa façanha
não arrastou as quinchadas
e deu de só te clavada
boto um só no cassique
se acavalo índio pique
dando adeus as campereadas
A minha pobre gaúcha
sentiu-se penalizada
até chorou a coitada
com a sena daquela morte
lamentando a negra sorte
ela disse entre choro
nunca esquecerei que o mouro
foi meu meio de transporte.
Eu falei comigo mesmo
me expressando desse jeito
tu tinhas o meu defeito
eu também corro perigo
meu mouro foste um amigo
por mais de dez prima veras
e eu não sabia que eras
tão parecido comigo.
Nunca mais meu compadre Paulino Quevedo Rangel
eu consigo cavalo igual.
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